Mata Atlântica depende de animais ameaçados de extinção




O Parque Nacional do Iguaçu (PNI) abriga um dos mais importantes remanescentes de Mata Atlântica da América Latina, que totaliza mais de 600 mil hectares de áreas protegidas, considerando o território argentino. Esse remanescente do bioma Mata Atlântica é composto por oito ecossistemas, entre eles a Floresta com Araucárias ou Mata dos Pinhais, e abriga mais de 22 mil espécies de fauna e flora. Em todo o Brasil, mais de 120 milhões de pessoas dependem diretamente da Mata Atlântica para viver.

Dada a importância desse bioma e a necessidade de conservá-lo, a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza apoia o projeto “Mamíferos como indicadores da saúde do ecossistema Floresta com Araucárias”, desenvolvido no PNI pelo Instituto Neotropical: Pesquisa e Conservação. A ocorrência de espécies ameaçadas de extinção em áreas protegidas pode ser um sinal de ‘boa saúde’ do ecossistema. Por isso, os pesquisadores estão analisando a presença de animais ameaçados dentro do parque para identificar o status de ameaça e, posteriormente, criar um plano de ação para conservá-los.


            

Desde março deste ano, 30 câmeras foram instaladas em vários pontos estratégicos do parque. O monitoramento está sendo realizado em duas etapas, totalizando 60 pontos amostrais (o acompanhamento dura em média 40 a 45 dias). Várias espécies já foram flagradas, como onça-pintada (Panthera onca), cutia (Dasyprocta azarae) e tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), anta (Tapirus terrestris). Cada uma possui importante papel na conservação e manutenção natural dos ambientes naturais onde estão, especialmente a Floresta com Araucárias, um dos ecossistemas mais ameaçados dentro da Mata Atlântica, que está protegido no PNI.

O registro de grandes mamíferos carnívoros, como a onça-pintada, pode ser um bom indício de que o ecossistema está equilibrado, já que sua nutrição depende da existência de outras espécies, as quais dependem de fontes de alimentação variadas para sobreviver. “ Ela é menos comum nessa região do parque, principalmente por causa da caça, pois acreditam que ela pode causar danos a rebanhos domésticos”, explica Carlos Rodrigo Brocardo, pesquisador responsável pelo projeto e associado do Instituto Neotropical: Pesquisa e Conservação.

Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário, explica que mamíferos de médio e grande porte são especialmente sensíveis a intervenções nos ambientes naturais, tais como desmatamentos e caça e, por essa razão, são excelentes indicadores de equilíbrio ecológico de um determinado ecossistema.


                       


“Uma floresta que aparentemente esteja conservada, mas que não abrigue esses mamíferos, está sujeita a desaparecer com o tempo, prejudicando todos os demais serviços ambientais por ela ofertados, tais como o fornecimento de água, a proteção de encostas, a manutenção de polinizadores, a regulação climática, entre outros, afetando diretamente a vida das pessoas de seu entorno”.

Animais de pequeno porte têm papel fundamental

Nem só os grandes animais trazem referências sobre o status de conservação do ambiente. Segundo o pesquisador, a presença de cutias também é um ótimo indicativo. “A cutia tem papel importante para dispersar o pinhão, semente da araucária, auxiliando na regeneração da Floresta com Araucárias”, comenta. Esse ecossistema nativo do Centro-Sul do Brasil tem hoje menos de 3% da sua área original de ocorrência, que abrangia áreas do Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e da Serra da Mantiqueira.

           

Outro animal observado no parque foi o tamanduá-bandeira, considerado “criticamente em perigo”. Essa espécie tem uma função essencial no equilíbrio do ecossistema, já que é responsável pelo controle de insetos e dispersão de sementes.

  

Fonte: Ana Paula Scorsin